domingo, dezembro 12, 2010

Futuro optimista



Sinopse: uma nova pessoa vem a esta realidade e é-lhe ensinado a montar uma estrutura para entender essa mesma realidade. Confrontado com outras estruturas ligeiramente ou extremamente diferentes da dele, questionasse e instrui-se com informação que lhe alargam as perspectivas da realidade, ao mesmo tempo que o choque de estruturas destroem ligações afectivas.



Sinopse: um pequeno exercício guiado através de exemplos e confrontações (situações do dia-a-dia) para que se questione a forma de como raciocinamos e a forma a como respondemos a desafios que nos são impostos. É lançada ainda uma proposta para que se oriente da forma mais eficiente, coerente, imune de influências externas a nossa lógica.



Sinopse: estudos, estatísticas, curiosidades sobre o porquê de termos um povo tão tentado ao conformismo. No fim deste exercício pode também encontrar formas de o combater.

Viver sem conflito

Aceitamos viver nesta condição de miséria pois separamos a morte da vida. A morte como algo horrível que só o é por aceitarmos essa condição. Sem conflito a morte teria um significado diferente. E a busca pelo significado do que é o amor teria outro rumo.


sexta-feira, dezembro 10, 2010

Cântico Negro

«Vem por aqui» - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos lassos,
Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Porque me repetis: «vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais niguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: «vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!


José Régio

segunda-feira, novembro 15, 2010

Fui às compras

Chego apressado e com uma película de suor que me cobre todo o corpo; é fina e fria como o gelo das madrugadas. Entro rapidamente no quarto, com três largos passos fico sentado no cadeirão junto à mesa dos papéis. Num movimento de mole desespero e de incerteza crónica, procuro o pacote minúsculo que trago no bolso mais pequeno das minhas calças. Aquele bolso feito para colocar os pacotes minúsculos que carregam o único e possível descanso terreno de quem usa aquelas calças.
Agarro-o com dois dedos e tiro-o do bolso. Coloco-o em cima da mesa e através do fino plástico azul consigo deslumbrar a cor castanha daquele pó essencial. Quase que sinto o seu fumo a passar pela minha boca e a prender-se nos meus pulmões.
Isso faz-me ficar ainda com mais pressa.

Estou preparado, tenho tudo o que preciso, nervosismo, folha de alumínio, vontade de fugir da minha vida, navalha, mãos suadas, isqueiro e cigarros. Começo pela folha de alumínio, é preciso cortar dois quadrados do tamanho de uma mão, faço isso como quem beija e acaricia uma mulher só para ter sexo, preliminares desnecessários. Depois de ter esses dois quadrados, dobro um em quatro partes para que fique mais pequeno e mais forte. Puxo de um cigarro e enrolo essa parte ao cigarro. O objectivo é dar-lhe uma forma redonda para que, quando tirar o cigarro, consiga fazer desse quadrado um tubo perfeito. Este não é. Ficou imperfeito como tudo o que faço e tudo o que sou, mas isso não importa. O que importa é que este ansioso preliminar terminou. Pego na navalha e com um corte prensado abro o pacote (que, neste momento, é o centro da minha vida).
Tenho o cuidado de não deixar cair nenhum pó.
Tudo é necessário.
Com cuidado e mãos trémulas coloco o pó no centro do quadrado da folha de alumínio e o tubo imperfeito na minha boca. Faço com que a folha não deixe cair nenhum pó. A mão direita procura o isqueiro e encontra-o. Acende-o e coloca-o debaixo da folha de alumínio. O pó, ao ser tocado pelo calor da chama, transforma-se em líquido. Transforma-se numa bolha fumegante de um negro liso e castanho cor de sangue. O primeiro fumo que me chega ao nariz dá-me vómitos (que eu controlo perfeitamente) e faz com aquele cheiro se cole a tudo. Inclino a folha de alumínio, normalmente chamada de prata, para que esta preciosa bolha possa escorregar e durar-me o maior tempo possível. Cheguei ao ponto onde queria chegar e de onde nunca queria partir. Dou lume e a bolha começa a correr, nesse momento começo a aspirar aquele fumo que tem um horrível sabor a sacrifício. Inspiro o suficiente para não ser demais ao ponto de me levar a vomitar e não ser de menos ao ponto de não sentir os primeiros efeitos. Foi pouco fumo, mas algo na parte de dentro da minha nuca tornou-se diferente. Uma paz egoísta começou a alojar-se aí, um estado diferente, uma estranheza mole e esponjosa. Num lento expirar deito fora tudo o que restava de fumo nos meus pulmões. A boca ficou com um gosto horrível que é preciso aguentar. Tornou-se seca e vazia, onde a língua bate rija contra os dentes fixos e implacáveis e contra o céu-da-boca negro e cinzento como eu o imagino. Continuo a fumar. Há quarta inclinação da prata eu sou outro. Surge em mim a calma que existe no fundo do oceano, torno-me uma pedra com olhos e boca. Sou uma árvore com pernas e pensamento. Sou uma montanha sentada num cadeirão.
A prata começa a ficar riscada com o correr da bolha, tal como as paredes brancas dos montes do Alentejo ficam riscadas pelo passear dos caracóis durante o Verão. Estou completo. Sinto o crânio cheio de uma pressão mansa, uma energia calma e poderosa. Começo a funcionar como Deus. Não existem problemas ou os que existem não passam de pormenores que precisam de ser enxotados com a mão. Continuo a fumar. Sinto-me muito bem, sinto-me doente. A bolha começa a diminuir, cada vez se torna mais pequena e cada vez aquela prata se parece mais com uma teia de aranha. Os rastos da bolha começam a fazer formas geométricas imperfeitas. Estou cinco vezes mais pesado que habitual. Os movimentos tornaram-se lentos e cansados. Apetece-me parar tudo e ficar de olhos fechados a sentir o meu respirar. A sentir este mole prazer que aparece em explosões, surdas e mudas, por todo o meu corpo, por todo o espaço de corpo que tenho. Faço uma pausa antes de acabar com a bolha. Sou feliz mesmo sabendo que só o sou por algumas horas. Recosto-me no cadeirão e relaxo todos os músculos, ossos e pensamentos do meu corpo. O tempo é contado em respirações. Uma vontade de vomitar nasce na ponta inferior do meu estômago, entretenho-me a vê-la crescer, a vê-la subir. É maravilhoso estar vivo. Acho que não vou conseguir acabar com a bolha, acho que me vai fazer vomitar. (Mesmo assim.) Vou arriscar. Num bafo cuidadoso, com o cuidado de quem enfia comida na boca de um acamado crónico. Respiro esse último fumo enquanto assisto ao ferver final da bolha e à sua transformação numa crosta seca e cinzenta anunciadora do fim dos sonhos. Largo tudo. Já não preciso de nada. Encontro uma posição confortável e quase que adormeço a observar as náuseas que, em vagas, me sobem meigamente à boca pelo estômago, como crianças que correm rua acima rua abaixo só para sentir o vento na cara. Sei que é uma questão de tempo até que uma me faça vomitar. Sei, também, que esse vomitar pode ser fatal. Mas isso não me interessa por agora. Estou de olhos fechados, quase que adormeço de prazer no cadeirão. Apenas me mexo para acalmar as comichões que me surgem na cabeça, no rosto, no nariz… Talvez o nariz seja o pior. É um gesto repetido, o de coçar o nariz.
As náuseas continuam.
Até que uma me obriga a mexer.
Faz-me endireitar o tronco, que repousava enrolado.
Tive que abrir os olhos.
Com essa náusea chegou também o medo.
Respiro devagar para a controlar. Tento ser o menos agressivo possível em tudo o que faço. Qualquer gesto pode trazer consequências inesperadas, pressinto-o. Sento-me meio curvado, meio como quem abraça alguém para fazer sentir bem e controlar-lhe a revolta. Fico assim durante alguns momentos. Agora, começo a sentir um mal-estar na forma duma pedra grande e redonda que me apareceu na base do estômago e que lentamente vai subindo. Sinto que não há nada a fazer. Não há maneira de a parar. Ela arrasta tudo consigo. Ela sobe. Até que chega à minha garganta. Num reflexo, o meu corpo entrega-se a um espasmo e sou projectado para a frente por um vómito doloroso, vazio e quente. Pouco há para vomitar a não ser esta vontade de vomitar (deixei de comer há dias porque me cansa muito mastigar e porque toda a comida se torna cinza na minha boca). Estou de joelhos, mãos no chão, boca aberta e garganta trancada por convulsões amargas e quentes. Quero vomitar, mas não o consigo fazer. Não há nada para vomitar, mas um impulso cego obriga-me a fazê-lo. A garganta trancou do esforço, o meu medo tornou-se pânico. Era isto que eu não queria, é isto que está a acontecer. Não consigo vomitar e agora também não consigo respirar. A garganta trancou. Consigo respirar em pequenos goles de ar. Quantidades quase imperceptíveis e quase insuficientes. Este esforço para respirar faz o som horrível de quem está a sufocar. Olho a morte nos olhos. Não sei se consigo mais um gole de ar, cada vez se torna mais difícil, cada vez a garganta está mais cerrada. Tenho os dedos cravados na alcatifa. Todo o meu corpo é tensão e garganta é um músculo preso num apertar absurdo. Está-me a fazer morrer. Estou a perder a força. Em vez de ar respiro um chiar forçado. Respiro um desespero final. Perco as forças. Caio para o lado. Com toda a força que me resta tento respirar. Mas não consigo. Um branco sem cor começa a tomar conta de mim, dos meus olhos, dos meus pensamentos… O desespero cede ao largar. As contracções internas do meu tronco marcam o tempo.
Foi aqui que nasci.

domingo, novembro 07, 2010

2012

‎"The 2012 Shift
The main lens through which I see the 2012 shift occurring illustrates a change that deviates from the macro structure of social conventions and group consciousness and gravitates towards individualism — abundance — and personal truth."

http://spiritualblog.com/2852/2012-consciousness-in-plain-english


quinta-feira, novembro 04, 2010

Eu, Eu, Eu, Eu, Eu.

Sou uma farsa que admite sê-la. Um actor que representa sem máscara. Um actor que durante a representação admite que não é quem representa ser. Sou ninguém. Faço-me pequeno para esconder a grandeza e faço-me grande para esconder a pequeneza. Sou vazio. Meia dúzia de palavras em equilíbrio. Não sei o quero, nem para onde vou. Sou. Sou sons. Vindos de dentro para fora e de fora para dentro, não sei qual das parte sou. A vida sabe-me a nada. Sabe-me a apertos de mão e a hálitos putrefactos. Sabe-me a desejos por realizar. Sou olhos, meus e teus. Sou olhares. Sou ver e não ver. Verbalizar é mentir-me. Sou um monte de mentiras que conto a mim mesmo.

Sei cumprir funções.
Vísceras, tripas.
Apetece-me bater em alguém.
Estão todos enganados comigo.
Não quero desiludir,
se essa ilusão é melhor que a realidade.

segunda-feira, outubro 25, 2010

Resta-nos a ironia


Recomendo outros vídeos relacionados com este que poderá encontrar nas sugestões à direita. (conforme visto no youtube)

sexta-feira, outubro 22, 2010

Albert Camus

"When a young man finds himself at the threshold of life, on the brink of any undertaking, he feels grave weariness and profound disgust at the pettiness and vanities that have soiled him even as he tried to deny them; an instictive aversion rises on him. His pride revolts at every day life, which grows even more humiliating. He doubts: ideias in general, social conventions, everything he has received. A grave matter, he also doubts his deepest feelings: Faith, Love. He becomes aware that he his nothing. There he is, alone, and at a loss. But he knows that he desires, therefore he can be something: he must at all cost define his potentialities."

quinta-feira, outubro 21, 2010

Eu Vivo no Estômago

É o estômago. Eu vivo no estômago. E neste momento ele está apertado, contraído. Tenho a sensação de querer vomitar, mas a razão para isso não é clara e por isso não vomito. Vomitar sem uma razão clara seria assumir o fim e eu ainda não quero que acabe, ainda estou agarrado a mim pelas pontas dos dedos. Mas o estômago aperta, e aperta cada vez mais ou cada vez o sinto com mais consciência.
Assim que fico só, ele aperta. Faz-me querer morrer. Faz-me querer parar esta dorzinha que se torna insuportável. Este cansaço de a sentir. Estou perdido. E não há mapa que me ajude. Perdido como sempre estive, mesmo quando estava esquecido disso. Não tenho nada. Uma mão cheia de nada, que me faz apertar o estômago, e o saber de que já nada cola. Tudo se desfaz. Não há uma coisa que me faça viver. Nada que me dê sentido por mais que umas horas. Estou condenado ao desamparo. Condenado a ser mais um entre os muitos. Mais uma sombra no meio dos vultos que deambulam por aí, sem norte nem sentido. Sem força de ser o quer que seja. Desacreditado de tudo. Um ser em convulsões de corpo preste a morrer. Um ser que me estrangula o estômago no desespero de se mostrar. Estou sem forças. Não tenho porque me mexer. (Pelo menos agora). As mulheres fazem-me querer mexer ao mesmo tempo que o estômago é estrangulado com mais força. Ao me mexer a ausência de sentido revela-se. Estou-me a mexer para quê? Porquê? Será que é isto que quero. Será que é isto que sinto. Não será melhor voltar a sentar ou a deitar? E deixar tudo como está, na calma do jorrar interior do meu sangue.Mas este estado também é passageiro. Daqui a pouco, uma qualquer vontade, nem que seja a de ficar de pé, toma conta de mim e faz-me mexer e faz-me doer. Pergunto-me sobre como posso suportar isto. A ideia de futuro faz-me pensar em suicídio. Não encontro resposta, a não ser este espernear que me faz escrever ou aquele momento de descanso onde me esqueço num qualquer entretem. Mas até esses entreténs estão a deixar de ter efeito, mesmo entretido sinto o estômago, sinto o seu apertar intolerante, que talvez me queira lembrar que estou vivo e que estar vivo é dor, é frustração, é desespero, é sofrimento, é desilusão. Acho que me quer testar. Quer-me provocar. Quer que eu o pare. Quer que o silencie. Este monte de ossos não faz nenhum sentido. Este corpo-dor não tem sentido. Dou por mim a fazer algo de espontâneo. Dou por mim com uma máquina no colo e a bater-lhe com a ponta dos dedos para que desenhos de dor apareçam numa luz branca e mágica. Dou por mim sem posição para estar. Sem saber como devo estar. Qual a forma de causar menos dano. Menos dor agora e menos dor no futuro.
Este corpo é absurdamente estranho com estas duas tarântulas que mexem às minhas ordens. Com estas dores que surgem e que me fazem sentir o sangue no seu vaivém doentio. Esta coluna de ossos que curva e se cansa de existir. E o sangue que bomba sem cessar. E eu sou isto. Este milagre doente que decai a cada respirar. Esta coisa que quer sem saber o que querer.
Acho que estou apaixonado.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Melancolia

Sabe bem falar contigo. Às vezes escuto-me. A falar no quarto sozinho sem que a palavra se ouça por entre as paredes, mas nem de longe se compara à tua voz, mesmo que em silêncio.

Lembras-te daquele nosso banco de jardim? As tardes de outono depois da escola. Era como que se um pedaço de tempo caísse solto do seu calendário. Para nós. Só nosso e daquele sol que descia reflectindo nas pedras da calçada a sua harmoniosa luz. Suave. Brilhava por de entre as folhas caídas de outono e eu, bem, eu estava, mas não estava. Porque estava contigo, não precisava de estar eu. Eras tu, eu. Sorria cerrando levemente os olhos que em ti me faziam chegar, afundava nos teus. Perdia-me. Perdiamo-nos.

Levantava-se a noite com tanto ainda para falar. Discutíamos. Sem o auxílio do relógio que não era para ali chamado! Eu tinha a razão, mas tu não querias ver! Repara nos meus argumentos! Mas não, tu não cedias! Afinal de contas eras tu quem tinha a razão e eu quem não queria ver. Mas sabes bem que afinal havia uma vírgula que não tinhas tu considerado! Eu sabia! Nós sabíamos. Porque éramos um. Fazia-mos sentido, no meio do turbilhão caótico de ideias e argumentos pouco arrojados, nós fazíamos sentido.

Quero que saibas que se sentou hoje aqui comigo, no nosso banco de jardim, ele que se acha digno de atenção. Eu, por simpatia ou cansaço depois de um dia longo de escola, deixei que ele falasse e eu ouvia. Sempre muito presente sentindo o ferro frio do banco na minha nádega esquerda. Dificilmente cruzávamos um olhar tal não era a falta de irmandade. Sentia a brisa fria, cortante que o sol já não tinha forças para aquecer. Esperava que ele terminasse o seu discurso sem sal. E terminou.

Vejo-o partir saciado da sua necessidade de se centralizar no mundo. Quanto a mim, quero que saibas que aqui te espero, no nosso banco de jardim. Espero por te conhecer. Um dia.

domingo, outubro 10, 2010

O amor

Hoje, estou cansado. Pesam em mim todas as memórias do mundo. E todos os sonhos surgem à minha frente como uma alucinação nauseante e repentina.
Sou guiado para fins que desconheço e por caminhos desconhecidos. Talvez sentar e ficar a sentir o tempo correr tenha o mesmo resultado que perseguir objectivos (objectivos que nunca serão meus, nem de ninguém).
Tinha uma ilusão. Ela escondia-se dentro de mim, em espaços muitos escuros onde muito dificilmente a via. Eu acreditava que o homem pode ser bom, ou melhor, que o homem é bom por natureza. Ontem, encontrei essa ilusão e sufoquei-a até sentir que as suas raízes, enterradas em mim, perdiam a força e que, ao mesmo tempo, uma tristeza alegre me confortava o espírito, anunciando que um novo mundo tomava forma à minha frente (novas definições e outras maneiras de agir se impuseram).
Descobri que sou só e que não há pai, nem mãe, nem irmão, nem tio, nem namorada, nem amigo, que possa pagar a fiança e comprar essa liberdade, o que podem fazer (e até devem) é trazer-me tabaco e dinheiro, nos dias de visita, para que os meus dias se tornem mais suportáveis, permitindo que alguns prazeres passem por este corpo.

Falo da ilha isolada que sou para a ilha isolada que és, mesmo que essa tua condição não te seja clara neste momento.

O amor é vontade de poder.
Não te iludas com o homem, são todos iguais a ti mesmo.
Imagina o que te espera.

sexta-feira, outubro 08, 2010

O pouco em que nada me envolvia

Vi, relembro o pouco que em nada me envolvia. Pedia-me emprestada por alguns instantes, longos por vezes, e eu não me queixava. Deixava que a levasse, não para muito longe, ciente que estava bem entregue. Ela ia, livre de correntes, livre de imposições e obrigações. Esvoaçava por entre bafadas quentes e acolhedoras, poisava aqui e ali, sempre bem-vinda, bem recebida por olhares radiantes e sorrisos bem rasgados.
Por onde mais poderia ela esvoaçar? Não havia muito mais. Era um todo, do pouco em que nada me envolvia. Havia um único elemento e não elementos, aliás havia, mas não que ela os conseguisse distinguir. E por isso esvoaçava, num ritmo cadente contínuo. Não necessitava de oscilações repentinas para que atiçasse qualquer chama, para puxar níveis de adrenalina estonteantes. Não. Todo este pouco era nada e me envolvia. É aqui que tudo faz sentido, quando o sentido não é uma questão à qual necessitamos de responder. E ela esvoaça.
Mas peço que ma devolva. Afinal qual é o homem que pode viver sem a sua alma?

Vi, relembro, vivi. O pouco em que nada me envolvia. Hoje tenho muito, tenho demais e não me sinto envolvido em nada.



the world is not a vicious place
its just the way we've been raised
discovering time and space
I know we that could make a change
rearrange the way that we appreciate the world today

its possible to love someone
and not treat them in the way that you want
its possible to see your eyes
be the devil in disguise
with another front-end

its possible to change this world
revolutionize the boys and girls
its possible to educate the next generation
ever rule the world someday

segunda-feira, setembro 27, 2010

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O que é um homem?

Para começar é preciso esquecer tudo o que nos foi dito até agora. Vamos esquecer o animal racional de Aristóteles. O ser de impulsos sexuais de Freud. E o ser que age com o único objectivo de ter mais poder, de Nietzsche. Esqueçamos também mais alguma resposta que veio ter aos nossos olhos ou ouvidos. Esqueçamos, ainda, uma ou outra conclusão que tenhamos tirado de alguma reflexão própria sobre aquilo que lemos ou ouvimos.
Se tentarmos esquecer tudo isso, por alguns instantes, o que podemos responder à pergunta inicial?
Para ser sincero, ao realizar este exercício só me ocorrem mais ideias que ouvi ou que li. Nada de original me ocorre. Talvez a pergunta esteja demasiado batida, podemos mesmo chamar-lhe lugar-comum. É pergunta central de qualquer disciplina que se designe por antropológica, consequentemente várias são as maneiras de olhar para ela e de lhe tentar dar resposta. Mesmo assim, nenhuma por si só, nem todas em conjunto conseguem satisfazer-nos.
Então, afinal, o que será isso a que se chamamos homem. Será que o termo homem está cheio de ideias e palavras que nele se foram sedimentando com o tempo? E que por isso não conseguimos ver mais do que aquilo que já foi visto? Haverá a hipótese de um novo olhar que veja aquilo a que chamamos homem? E que consiga, na sua originalidade, ver realmente o que é? Ou que percepcione e entenda que a pergunta sobre o que é (a essência) é um passo de retórica e que a existência, muito ao jeito de Sartre, é desprovida de palavras e que estas são apenas véus que cobrem as coisas e que se estivermos atentos à “naúsea” acabaremos por as ver cair, despedaçando o mundo que conhecemos até agora, e que numa reacção de medo, vamos tentar colocá-las, de novo, a cobrir as coisas para que o conforto que existia volte, mas elas já nunca mais vão fixar-se.

A pergunta mantém-se e eu não consigo encontrar nenhuma resposta original.

sexta-feira, setembro 24, 2010

Melodia

Aquele som. Que me mexe e remexe, sinto a barreira essa pairando lá no alto, que colapsa estrondosamente no embate que quebra o seu silêncio. Sou levado e vou, vou nessa onda que vibra como galhos verdes de outono que teimam em desabrochar. Estala estonteante, mas que som! Sim, apodera-se de mim aquela sensação arrebatante que ao principio ousei desprezar. "Não, será apenas só mais outro som. Como imensas livrarias que se fariam estender pelas maiores cidades do mundo. Encobrindo até esse que é omnipotente, esse que é sol." Tudo! Tudo se envolve como que se uma sanguessuga posicionada no ponto central exacto do quadro que é a fantástica vida, a chupasse aqui mesmo! Agora! É agora, apercebo-me! Está a acontecer. O bombardeamento selvagem atacante sem dó nem piedade. Não poupa ninguém? Não vejo ninguém! Não o sei precisar ou imaginar! Agora não! Agora sou eu e este som, que vibra, que me possui corpo e alma! Não creio! Não posso crer, digo até, que algo tão devastador e insaciável se apodere apenas de um só órgão que compõe este que é o meu corpo humano. Impossível exclamo! Não me dirão que os causadores deste trance a que já me habituei e me descontrolo são os ouvidos por si só! Caio então nele, rebolo desamparado à medida que o som volta a subir de intensidade! E com o som trás cores, trás imagem! Trás sentimento, trás emoção! Trás tacto, trás cheiro! Mas que som esse! Vejo o mundo a 100 à hora! Tudo passa sem que nada se aperceba de mim! Mas eu, ò eu! Que de percepção aguçada por esse som tudo vejo! Tudo vejo a passar e não o quero parar. Não posso assumir qualquer tipo de compreensão à medida que caio! Mas desbasta-me então à medida que o corpo acusa excesso. A que me pego eu? A que me seguro? Haha! "A nada!" me exclamo por entre a euforia! E então agora rendido me balanço. Mexo-me como nunca me mexi antes. Expressando um desenho abstracto numa tela invisível. Desenho eu todo! Eu que agora rendido me balanço. Solto o braço no ar respondendo à bombada mais forte, mais guerreira do bass! Atiço esse dialogo flamejante mostrando o fraco e impotente que sou perante tão grandioso som. Salto. Deslizo. Estalo os dedos para acertar a batida incerta que insiste em desbravar. Abano a cabeça ainda que a cabeleira não esvoace.
Quão flamejante e intenso! Quão não tarda a soltar-se a última batida. A majestosa última batida que acerta pela última vez o passo ao coração.
É neste desfechar de luzes que agora o maestro pede a sua ovação.
Mas eu não, não me levantarei rendido que estou neste chão. Solto um riso fechado à medida que fecho os olhos. Agarro os joelhos como quem ousa vir à vida e abandono o meu corpo, ciente do grandioso momento que acabara de violar o meu corpo.

sexta-feira, setembro 10, 2010

A beleza de um osso

Céu negro.
Tudo luz sobre o foco desse olhar.
Na cidade, mais três pessoas morrem agora.
Nunca pensaram nesse destino conjunto.
Nunca se viram.
Mais de mil bebés vêem pela primeira vez alguém.
Em nós, o sangue continua a correr.
Uma história silencia-se num ouvido.
A faca que matou não tem consciência disso; o golpe também não.
Estava escuro, e o medo encontrou aí terreno fértil para germinar.
Ouço um grito; de Alegria.
Alguém se veio na sua solidão.
Às vezes parece mesmo que estou vivo; Disse-me o vizinho que já se tentou matar 3 vezes.
As ilusões iluminam-te a vida; respondi eu.
Todos nós somos cegos.
Agora, alguém morre em agonia, mas o teu mundo não se altera. Talvez a seguir sejas tu.
Os pensamentos dão-te sono. A cocaína faz-te mexer.
Mas tu continuas pelo caminho.
Tens esperança nalguma coisa.
Alguém se esqueceu de dizer brincadeira depois de falar contigo.
Chegaram mais homens.
O horror carrega a escuridão.
Mais homens mais problemas.
Eis a matemática essencial.
O amor é medo. O medo é amor.
Uma coisa cresce dentro de ti.
Sabias que o céu pode ser apenas uma ideia?
Há coisas em que nunca pensaste.
Pensaram-nas por ti.
Alguém cagou fora da sanita.
E é feliz.
A noite está linda, e ouvi dizer na televisão que morreram mais de mil tal.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Quarta à noite

São sempre salas e objectos aquilo que me rodeia. Salas cheias de tudo menos de gente. Só eu aqui estou. Sentado ou deitado. E de todas as formas possíveis eu tento fugir a essa situação. Livros. Computadores. Memórias. Fantasias. Tudo me serve para não cair no que sou e onde estou.
E o que sou? Um homem só, que não sabe ser de outra forma. E onde estou? Estou nesta sala como em tantas outras. E só eu estou aqui.
Não quero companhia de memórias por muito confortáveis que sejam. Hoje quero estar aqui. A sentir esta ausência de gente e a matar ideias reconfortantes que sem serem provocadas surgem para apaziguar o mal-estar de estar só.

sábado, agosto 14, 2010

quinta-feira, junho 24, 2010

Porque escrevo.

Escrevo para não cair. Escrevo porque gostava de me rir. Escrevo porque sinto-me frágil incompleto e incapaz. Escrevo para não cair no poço das minhas desconfianças para comigo mesmo. Escrevo na esperança de prender no papel aquilo que não se desprende de mim. Escrevo porque só só sou bom. Escrevo porque vejo-me um homem triste e entristecedor. Escrevo para confessar pecados que não são meus. Escrevo porque me dá dignidade. Escrevo porque há homens que escrevem. Escrevo porque algumas vezes a morte teria um gosto doce. Escrevo porque nao sei desenhar nem amar. Escrevo para me rebelar. Escrevo porque sei que me escapo. Escrevo porque sou um coitado. Escrevo mas não sei. Escrevo na dúvida. Escrevo na incerteza que me habita e me faz temer. Escrevo e no fundo quero ser famoso, fama, dinheiro, mulheres, reconhecimento, enfim, quero que um grande grupo diga que a minha loucura é boa, valiosa e rara. Escrevo porque não tenho mulher. Escrevo para me salvar. Mas nada disto me acontece quando escrevo.

domingo, junho 13, 2010

Se concordarmos que a existência não têm qualquer sentido, qual será o próximo passo?

A busca de um, a vida sem um, ou a morte?

sábado, junho 05, 2010

sem título




Don't drink the water

Come out come out
No use in hiding
Come now come now
Can you not see?
There's no place here
What were you expecting
Not room for both
Just room for me
So you will lay your arms down
Yes I will call this home

Away away
You have been banished
Your land is gone
And given me
And here I will spread my wings
Yes I will call this home
What's this you say
You feel a right to remain
Then stay and I will bury you
What's that you say
Your father's spirit still lives in this place
I will silence you

Here's the hitch
Your horse is leaving
Don't miss your boat
It's leaving now
And as you go I will spread my wings
Yes I will call this home
I have no time to justify to you
Fool you're blind, move aside for me
All I can say to you my new neighbor
Is you must move on or I will bury you

Now as I rest my feet by this fire
Those hands once warmed here
I have retired them
I can breathe my own air
I can sleep more soundly
Upon these poor souls
I'll build heaven and call it home
'Cause you're all dead now
I live with my justice
I live with my greedy need
I live with no mercy
I live with my frenzied feeding
I live with my hatred
I live with my jealousy
I live with the notion
That I don't need anyone but me
Don't drink the water
There's blood in the water

terça-feira, maio 25, 2010

segunda-feira, maio 10, 2010

Insónia em palavras

Sou pobre de espírito
vazio de profundidade
queriam muitos
chegar à minha idade

***

Saber é morrer.
Porquê?
Não sei.
Quero viver.

***

Não sei poesia
nem poemas
nem nada
sei escrever
basta.

***

Numa frase vou pôr o mundo
Já está.

***

Só a sorte é minha aliada
Não planifico nada
a inocência e a preguiça
são a minha estrada
Só a sorte é a minha aliada

***

Bolachas e leite
tudo serve
para matar
o vazio que me preenche

A certeza

Sei que sou, pois sou. Existo, digo para que fique assim esclarecido. Sou aquele de suas características vãs, um quanto de sólidas. Sou. Sou porque sou e nunca o deixarei de ser. Sou porque,... Acredito e tenho a certeza! Sou porque sou são, de corpo e de certo que de mente, caso contrário não o seria: são que sou. E porque preciso de ser? Porque outrém não o poderia ser, não o poderia acreditar. Sei que sei. Que sei que nasço e desabrucho para acreditar, que caso contrário não o saberia que sei e quem seria eu então afinal? Não seria! Mas não eu! Eu não, que quero ser e para sempre serei!

Sim! Ora essa! Mas que questão parva vem a ser essa que se me impõe por entre de mim para mim!? Que ousadia?! Eu tenho a certeza que sei! Que sei que sou!

Sei, também, que sou eu. De mim para mim, numa imensidão que poderá mesmo resumir-se essa a nada. Sei que só poderei realmente saber de certeza esta que de mim para mim falo, para mim. Sei que sou eu e ninguém mais ousarei ou poderei ser! Sim, eu sei-o! Admito-o! Contudo acredito! Sim, eu acredito! Mesmo sendo eu, de mim para mim, como quem se namora numa distância imenssa impossível de medir nessa condição mística, que, contudo, se junta num único fugáz movimento.

Sei que sou, mesmo que só eu o possa saber. De certezas outras não preciso, pois eu em mim jámais desacreditarei! Não, não o posso fazer! Enviar-me a mim para o abismo? Ao precipício? Cair no eterno, tão, tão sómente só. De nada se compõe já que é solidão pura, que de certeza, pois claro, carece. Quase que chora por certeza. Num grito ruin que vem da entranha da criança que viu nascer que agora teme por morrer, só. Que é adulto na sua infância eterna, mas que, contudo, não faz vencer, que não se engana forte o suficiente! O quanto é preciso para que se forge nos calabouços desse abismo que para mim não quero, a certeza.

Se é para ser eterno, se é para o ser sozinho, que seja com a companhia da certeza.

segunda-feira, abril 26, 2010

Valete - Roleta Russa

A destruição iminente do amor

Faz-me rir! Oh, sim, se faz. Rio-me uma vez, rio-me duas e porque não se não há mesmo duas sem três? Rio-me porque rir faz bem! Quem não ri afinal? Todos nos rimos e ainda mais eu! Eu que me rio do obsoleto. Não, não me rio de vaidade pois rio-me de mim mesmo, admito-o. Não o digo para que assim me proteja, o digo porque assim o é já que não consigo escapar à pele.

Amor. Esse amor que se começa a amar pelo globo ocular. Que de súbito desce aos calabouços do ser, cai no precipício de alma para que com toda a sua iminência venha ao de cima para trazer um fulgoroso estrondo para que caia-mos em nós próprios, para que deixemos de ser nós próprios para dar algo à fuga do ser, que foge por amor. Que já não é nosso, não é de ninguém, pois de ninguém deverá ser o sentimento. E se fosse?

Se houvesse esse que ninguém fala, que todos o deixam no sótão do esquecimento que poderia ser eterno. Mas eterno não, que eu não o deixo. E se houvesse ele? O que seria do nosso ser se ele dissesse que guardava todos os sentimentos num livro escrito à mão que fora pela sua, não doutrém. Lho digo eu que iria desfolhar o livro fervorosamente, galopando forte por entre as páginas como que se o amanhã demorasse a chegar. Sim, estou certo de que o faria assim que eu ousasse dizer-lho sussurrando ao ouvido: "A verdade, mesmo que escassa e supérfula, ínfima essa atrevo-me, é que tu, tu nada sabes sobre o que sabes quando de sentimento te evoco. Sentes para que sintas, para que fujas ao que não sabes e não queres verdadeiramente conhecer, porque te agrada, te enche de prazer. Dele precisas, dele não queres abdicar. Por isso mesmo, o evitas conhecer."

Já to disseram e nunca o levaste a sério. O que vês hoje foi uma sucessão de acontecimentos que de ti nem um pestanejar precisou. De nada tu fizeste parte para que estejas aqui hoje. E to digo eu, que de nada de ti precisas para amar. To digo que o que começa no globo ocular e passa para as entranhas do teu ser de nada de ti precisa.

Da mesma forma que escolhes a maça mais bela de toda a macieira para que a comas, mesmo com a tua ausência do questionar que, no fundo, te domina, também o mesmo acontece com aquele que amas. Pois é o mais belo do pomar que alcanças e assim o que te trouxe aqui hoje, de que nem um pestanejar teu precisou, mais uma vez te nega e despreza para que outros venham depois de ti. Fazendo de ti uma marioneta que não consegue ver os próprios cordéis.

terça-feira, abril 20, 2010

segunda-feira, abril 19, 2010

A incerteza do imortal

Desmonto-me. Destruo-me para que me possa reconstruir. Desactivo-me para que possa reactivar na finta do desolhar e desacreditar. Descomplexo-me à mais básica forma de ser dentro do ser que sou por ser. Desconcentro-me de forma tal que movimentos carecem de qualquer previsão. E então reencontro-me. Forte, na fraqueza encontrada na fuga de ser. Leio-me naquilo em que nada deverá estar escrito. Mas tenho fé, acredito para que oriente o que reste daquilo que não devastei por inteiro. Para que chegue longe, mais longe, para que chegue, chegue a algo. Contudo será que esse é o fim do destino? Será algo demasiado consistente para quem caminhou vazio a passo largo? Contudo chego. Contemplo. Acaricio ao ritmo que vou expurgando, cinza.

A vitória que corre então nas veias é inexplicável, que doutra forma vitoria não o poderá ser. Contento-me com a inexistência de contentamento. Forte na carência que nada preenche. Nada, eu assim o quero por alcançar o não querer. Mesmo sem sabendo se o alcancei, não choro. Não preencho. Rio. Sem satisfação alguma. Seriedade num desentrelaçar dos movimentos de um bobo.

Plenitude.

Contudo temo. Por mim e pelo que vou deixando de ser para um outro ser. Temo a metamorfose que se rege pelas suas leis em que nada posso. Questiono-me então:

Será uma sanidade imortal?

I have a dream

domingo, março 28, 2010

O Livro do Desassossego

"O coração, se pudesse pensar, pararia."

"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do
abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma
prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis,
porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao
que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao
que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até
mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e
canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que
me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro
dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se
não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

* * *

"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como
sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a
substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de
milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança
sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo
mais porque vivo maior."

* * *

domingo, março 14, 2010

Espamo

Jesus que espasmo!
Deus tocou-me,
doce toque
de morte,
de prazer,
de loucura e arder,
escrever
até morrer
a palavra do pensamento
a crescer por dentro
a partir do que sou
vivi e vou
vou e voltei
sempre aqui
junto a ti
e a mim.

sexta-feira, março 05, 2010

Só Sei Falar de Mim

Gostaria de escrever sobre o mundo, sobre as suas coisas e os seus problemas. Mas, só sei falar de mim. Não quero com isto dizer que eu não sou do mundo. Antes pelo contrário, falar do mundo é falar de nós, já que falamos de dentro da “nossa casa” e o que vemos é através das “nossas janelas”. Contudo, mesmo sabendo isso, eu continuo a querer falar só do que se passa dentro da “minha casa”. Só sinto vontade de escrever sobre a minha vida interior, e, mais precisamente, sobre as minhas angústias e medos. Se escrevesse em poesia até poderia produzir algo de interessante, mas não, eu apenas escrevo para aliviar o pensamento, através duma prosa de qualidade duvidosa.
Pronto, devo de admitir que, passados alguns anos, retiro prazer em reler esses textos (nem sei bem como nomeá-los) e constatar que muitas dessas aflições já desapareceram. Tenho também a esperança, muito secreta e patológica, de que depois de morrer alguém os encontre e os leia e me ache uma pessoa muito interessante e que assim continue a seduzir depois de morto, o que será muito bom, pelo menos parece ser por agora, porque depois de morto não sei se a sedução irá ter alguns frutos já que não posso aceitar elogios nem convites sexuais.
Falar da morte seria bom. É assunto sério e poderia fazer uma bela prosa a partir daí, mas o que gosto mesmo é de falar de mim. Falar de como sou bom, quero dizer, de como sou mau, mas ao mesmo tempo bom por perceber que sou mau. Gosto de falar da minha incapacidade de ter namoradas. Fico sempre muito aliviado depois de escrever um bom texto sobre o assunto (bom texto segundo os meus critérios, claro). Qualquer coisa serve (desde que seja minha) para eu me lamentar roçando a esferográfica no papel ou pressionando teclas de computador. Bem, vou terminar este texto porque lembrei-me de um assunto interessantíssimo para escrever.

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

domingo, fevereiro 14, 2010

O gato

Cresceu e morreu no mesmo instante. Foi assim que Ruben compreendeu a vida do seu gato, que morrera hoje aos 10 de idade. Todos aqueles anos parecem ter sido um instante. Parece que foi ontem o dia em tinha o pequeno gato fechado nas suas mãos de modo a torná-lo cárcere do seu carinho e adicto ao seu calor.
Morreu hoje, 10 anos e 26 dias depois de ter sido atirado para este espaço. Ruben chora. Nunca nada nem ninguém lhe tinha morrido durante os seus 16 anos de vida. As lágrimas caíam da sua face, tal como se de uma fonte de água cristalina se tratasse. O seu soluçar era ritmado, tambor de vida vibrando no interior do seu corpo. A ideia da morte corre-lhe pelas veias deixando uma sensação de desespero por onde passa. Ruben rende-se ao desespero e considera a hipótese de arrancar o peito para aliviar a dor. Deus ausentou-se. Resta nele a dura existência da perda.
O gato está estendido na sua alcofa, um corpo sem vida coberto de pêlo. É bela a imagem de um corpo que deixou de possuir vida tornando-se apenas mais um dos objectos inanimados do mundo. Ruben não consegue ver isso, o seu olhar não se consegue libertar da memória, que lhe traz, para castigo do seu coração, as imagens e sensações dos momentos passados em conjunto.
Ruben não aguenta mais, deita-se na cama e enrola-se na tentativa de controlar a dor que lhe domina o peito. As unhas estão cravadas na pouca carne que possui nas pernas e as lágrimas correm num fio consistente. Ele sente-se a transformar em algo de horrível. Sente que um novo ser aparece no seu interior, algo de novo, mas ao mesmo tempo antigo. Uma mutação.
Num salto ele levanta-se da cama e coloca-se em frente ao corpo morto. Algo o força a pegar no gato, ele não tem a certeza do que o está a impulsionar, mas sente-se poderoso de uma forma que nunca antes tinha sentido. Neste momento ele é livre de incertezas, o que quer é o que faz, deixou de existir margem para dúvidas ou hesitações. Desta forma, tudo o que faz é inteiro e transborda de certezas.
De um rasgo, pega no gato e, movido pela vingança, segura-lhe em cada uma das patas superiores, num instante, cerra os dentes e de um só movimento rasga o animal em dois. Numa mão, fica uma das patas do gato, na outra, encontra-se o restante corpo. Ele demora-se a observar a ruptura que tinha forçado, os delicados pormenores daquela separação. Mas isso não era suficiente, ele queria mais. Ele queria ver mais, ele queria mais vingança. Ruben encontra-se possuído por uma raiva incontrolável, o gato não tinha o direito de morrer e de o deixar naquele estado.
Um estrondo surdo fez estremecer o quarto e encheu todos os recantos com loucura. Ruben abriu os olhos e olhou para o relógio, passam 5 minutos das 8 horas da manhã. Olhou para o lado esquerdo da cama e viu o gato a dormir tranquilamente, reparou, então, que se tinha perdido novamente no sonho real do existir.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Equilibrio - Passivismo / Activismo

Todos os dias tomamos escolhas que vão diferir em torno da nossa personalidade que temos vindo a construir e que arrastamos conosco em perpetua construção até morrermos.


Mas de todas as escolhas que possamos vir a tomar há que se torna, se me permite, um pouco comercial. Pois esta escolha é vendida pelas massas, que ao mostrarem males que vendem e nós compramos, aliás, até porque de bem não somos nós entendidos já que prazer de ler sobre ele raramente encontramos, não é verdade? Ao mostrarem esses males estão-nos passivamente a implicar uma opção: principalmente movidos pelo nosso poder de empatia, sentir frustração e procurar como ajudar, ou, como acontece na maior parte das vezes, passar os olhos na desgraça que já é hoje como que uma pequena doze da nossa droga favorita para que estejamos felizes no nosso dia-à-dia, e seguir em frente como que se aquele momento não existisse. Uma coisa muito nossa que gostamos de fazer em privado no nosso pensamento.

A escolha do viver no sonho ou na realidade. Há quem prefira deturpar a sua própria consciência e viver na alegria cega. Há também quem escolha manter os pés firmes na terra sangrenta.

Sem que o pessimismo vire regra, podemos sempre com maturidade desafiarmo-nos a nós próprios e aos nossos neurónios. Aceitar pequenos desafios mentais, para que afinal tenhamos a certeza do "eu penso logo existo" que tem de existir em cada um de nós. Sim tem. Acredite que se pensa que este não é preciso, tem os dias contados para mudar de opinião até que o mundo lhe caia em cima em bruto.

E que se faça bem claro, bastante claro mesmo, que verdades absolutas nunca serão mais que meras criações.


sábado, fevereiro 06, 2010

A gente não lê

Comecei a trabalhar num call center e são várias as vezes que ouço alguém do outro lado da linha dizer-me: "A gente não sabe ler." Num tom misto de tristeza, incapacidade decretada e fatalidade desse destino que pouco soube ser de amigo.

"A gente não lê"

Rui Veloso capta nesta música um pouco do mundo desses que não lêem, fazendo-nos pensar como pode ser pequeno o mundo dessa gente que povoa o nosso país, trabalhando a terra e cuidando dos seus animais.
A gente que não lê não é gente estranha e desconhecida a quem devemos reclamar algum tipo de distanciamento. São, antes pelo contrário, os nossos avós, pais e mães, mesmo que não partilhemos com eles nenhum laço de sangue.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

A todos os mentirosos e mentirosas



LIAR

Lie lie lie lie liar you lie lie lie lie
Tell me why tell me why
Why d'you have to lie
Should've realised that
Should've told the truth
Should've realised
You know what I'll do

You're in suspension
You're a liar

Now I wanna know know know know
I wanna know why you never
Look me in the face
Broke a confidence just to please
Your ego should've realised
You know what I know

You're in suspension
You're a liar

I know where you go everybody you know
I know everything that do or say
So when you tell lies
I'll always be in your way
I'm nobody's fool and I know all
'Cos I know what I know

You're in suspension you're a liar
You're a liar you're a liar
Lie lie lie lie lie lie lie lie

Lie lie lie lie liar you lie lie lie lie
I think you're funny you're funny ha ha
I don't need it don't need your blah blah
Should've realised I know what you are
You're in suspension you're in suspension
You're in suspension you're a liar
You're a liar you're a liar
Lie lie

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Faithless - Bombs

Banido da MTV.

Para quem não conhece o que é a "MTV" por um motivo ou por outro, vos tenho a dizer que não é nada mais que a doutrina dos nossos tempos. Desculpem-me irmãos, mas eu não vou à missa.


Nada mais para acrescentar.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Escutem o mundo.



Covardia de Plantão

puta que pariu
quase ninguém me viu
dando mole pra agressão
agora eu tô quebrado
quase todo arrebentado
deitado aqui no chão

quatro filhos da puta
com toda força bruta
me zoaram pra valer
tomei chute na cara
paulada na cabeça
mesmo sem saber por que

refrão
me ajuda aqui!
me ajuda aqui!
me leva pro hospital
que eu não paro de sangrar

sempre foi uma bosta
te pegaram pelas costas
covardia de plantão
skin, punk, torcida
ou coisa parecida
a lei é enfiar a mão

perdi o dente da frente
meu sangue ainda tá quente
quase não sinto dor
acho que fui esfaqueado
procura esse buraco
liga logo pro doutor

ódio por nada
apenas por odiar
brigas por nada
apenas por brigar
vingança por nada
apenas por vingar
mortes por nada
apenas o nada!!!

terça-feira, janeiro 19, 2010

A fórmula do governar

Não pense que só os físicos são capazes de alcançar fórmulas matemáticas para normalizar toda a sua realidade. Também governadores o conseguem.

 E = mc^2\,


G = pe2

  • G = governar
  • p = pão
  • e = espetáculo

Mas poderá uma fórmula física ou outra conter uma verdade absoluta? Será possível abranger tão vasta realidade em tão pequenas fórmulas?

Poderão elas resistir ao tempo?

Quanto a Einstein não tenho a certeza nem se viverei o suficiente para a poder ter, mas quanto a César eu afirmo que a evolução obrigou a corrigir as fragilidades da sua fórmula.

G = pe2 / of

  • G = governar
  • p = pão
  • e = espetáculo
  • of = ocultação de factos


"Why don't you ask the kids at Tiananmen Square?

Was Fashion the reason why they were there?
They disguise it, Hypnotize it
Television made you buy it"


Sabia que se você nascesse por volta de 1989 na China não saberia hoje o que se passou em Tiananmen Square? Os pais têm medo de contar aos filhos para que estes se mantenham calmos e possam sobreviver às circunstâncias do seu país.

domingo, janeiro 17, 2010

Assim falava Zaratustra

"Queriam fugir da sua miséria, e as estrelas pareciam-lhes demasiado longínquas. Então suspiraram: «Oh!, se houvesse caminhos celestes para alcançar outra existência e outra felicidade!» - Foi então que inventaram os seus artifícios e as suas sangrentas beberagens.
E julgaram-se então libertos do corpo e da terra, os ingratos! Mas a quem deviam o espasmo e a voluptuosidade do seu êxtase? Ao seu corpo e a esta terra."

Retirado de: NIETZSCHE, Frederico. Assim falava Zaratustra. 14º ed., Lisboa: Guimarães Editores, p. 48.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

The Reader

Há muito tempo que andava para ver este filme.

Fiquei com vontade de o ver assim que ouvi o título, antes mesmo de ver qualquer imagem.

Ontem tive a oportunidade de o ver e o que vi foi uma história de amor. Mas não daquele amor que normalmente preenche os filmes. O amor que ali vi é o amor que se esconde nos corações, o amor que nos mostra o céu, que nos controla, nos molda, nos limita e que no final parte deixando a saudade e um novo ser no nosso lugar.
Um novo ser que vive a dor de ter tocado a felicidade e dela ter sido separado, um novo ser que perdeu a inocência perante a realidade. Esse ser traz consigo a marca do amor, tatuagem que tempo algum apagará. Foi esse amor que eu vi no filme. Vi o meu amor no filme.


The Reader - Trailer HD - ShoxXx - Click here for another funny movie.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

The Cranberries - Zombie


"Another mother's breakin'
Heart is taking over
When the violence 'causes silence
We must be mistaken"

A gota de fé na tempestade de opressão

Para que falemos em opressão, e para que fique desde já esclarecido: sim falo na opressão do povo em sistemas não liberais, temos primeiro que perceber o nosso passado. Aliás como tudo o que é actual merece o seu estudo e não um total desprezo e desvalorização feitas no acto único da intuição de um individuo isolado. Para que, também, possamos não só falar, mas falar com mais veracidade. Percebamos nós o que estamos a falar hoje, que tanto tem de hoje como mais poderá ter de ontem.

Postos estes termos falo-vos então da sociedade e sistemas emergentes como que numa total desordem por mero acaso. Um sistema social por mais bem ou pior estruturado que ele seja tem sempre um líder. Ande por onde andar, até que chegue por fim nessa sua busca à total exclusão do homem como ser consciente e racional. Líder esse que se impõe não por ser ordinário, vulgar com nada que outros demais não possuam. Não, que esse líder se existe foi certamente puxado pela alavanca de um verdadeiro líder. Faça-se saber que o povo não está para infantilidades. Poderá ser por ter mais porte e força, outrem por sábia razão. O que realmente prevalece independente de como se consegue é a fé do povo nele, e só nele. Repare que tanto gosto eu de dar ênfase ao povo, povo esse que vai criar naturalmente impulsos no seu líder aos quais tem e terá todo o orgulho em responder. Família, protecção, bem-estar, cuidado, harmonia, equilíbrio, alimento, abrigo são tudo palav
ras de ordem e direcção. O líder uma vez eleito por outros ou por ele próprio, não interessará para o caso, saberá ouvir selvagemmente aos seus instintos.

Ainda hoje, repare, quando um líder se apresenta a si, ou a mim, ele proclamasse como o bem da pátria e do seu povo. E repare como eu dou ênfase ao povo. Mas não um povo qualquer, é o seu povo. Seja por falta de conhecimento, sabedoria, experiência. Seja por não conhecer outros do seu sangue que não a sua tribo e ver então uma possível ameaça. Seja por não haver que chegue para todos aqui e agora que se adivinharam mais uns milhares depois da encosta. Que não seja é o mal do seu povo, essa é a sua única razão de existência.

Será bom? Será mau? Será natural? Será impossível de tomar outra direcção já que esta é a sua única e verdadeira?

Como resultado hoje existe um tremendo desequilíbrio no mundo.

Contudo se há coisa que esta vida não tem falta é de imperfeição. O que aconteceria se surgisse algo tão poderoso que lhe desse mais do que o sonho de ousar contra todo um povo de um líder outro que não o seu? Líder outro que tanto se gaba e se deixa gabar e aclamar pela sua impiedosa opressão. Que nem a necessidade mais básica inerente à vida humana ele deixa usar como uma ferramenta do dia-a-dia, a liberdade de expressão. Será que esta força conseguiria abalar os pilares tão afundados nas antigas terras deste povo? Poderá haver força tão forte e capaz de governar mais que o líder de um povo que não é o seu?

domingo, janeiro 10, 2010

O instinto inerente à criação

O porquê de estarmos aqui, hoje, pode ser bastante complexo, admito-o eu aqui perante você. Mas ouso ter certeza numa coisa: foi o instinto mais primário que este mundo já alguma vez viu nascer em qualquer espécie que “tenha cu”, ou até mesmo sem ele. Por mais falta de conhecimento e ligações que se tenham neste mundo, por mais que o intelecto careça de destreza e intuito, talvez, por mais insignificante que possa ser uma ou outra existência uma coisa é certa: tudo o que mexe teme a morte. O mecanismo mais primitivo talvez até impossível de compreender, não concordará?

Poderá ou não concordar com esse ponto, mas quanto a este eu lhe digo que não poderá discordar: de primitivo ele não tem nada, de eterno talvez, quem sabe de bastante actual. E digo-lhe até que se em tempos resultou maravilhosamente bem, trazendo-nos nós aqui, hoje, continua a resultar extremamente bem entre nós, hoje. Dizem que tudo o tempo faz amadurecer, tudo nasce, tudo vive, tudo morre. Dizem até que mesmo que a vontade não o quisesse, a natureza do que envolve tudo o que nos rodeia obrigaria a evolução a acontecer, seleccionando-se do todo uma fracção elitista do mais forte, naturalmente.

Concordará comigo, com eles que o dizem? Pois bem, poderá aceitar você tais factos provados das nossas ciências, mas nunca seria eu capaz de aceitar que o instinto que nos trouxe a nós e a tantas outras formas de existência aqui, hoje, tenha evoluído. Nem um pouco, lho digo.

É a culpa das nossas ciências que possibilitam o sonho humano da imortalidade, que se dizem capazes de assumir o total controlo da existência. Que dizem que conseguirão controlar o envelhecimento, pois percebem agora o que o causa. Que dizem que conseguirão controlar uma tão desejada poção de rejuvenescimento através de células regeneradoras.

Este sonho que não é sonho, porque todo o sonho é sonhado de livre vontade. Porque todo o sonho é um desejo, uma ambição pessoal que nasce dentro da nossa razão. Pois este sonho que de nada racional tem eu lhe chamo uma fraqueza humana. Um subestimar do poder da natureza que nos envolve e de que somos feitos.

Uma total ignorância e carência do perceber da vida. Do respeitar dos ciclos. Do saber onde pertencemos e para o que o sistema de nós carece e precisa. Com certeza lho digo que o que a natureza precisa não são de seres humanos com um egoísmo insaciável que só escasseará com a sua eventual extinção.

Pare de se questionar sobre o que precisa e comece a questionar o que pode abdicar. Assuma-se tão pequeno nesta realidade como realmente o é. Não pense que é Deus de si e que só de se mestrar a si precisa, é Deus de muito mais, é Deus de tudo o que o rodeia, tudo lhe pertence. Porque se não for seu é de quem? Já pensou bem? No máximo de um outro igual a si, um outro racional seu irmão. E depois de perceber a vida, submeta-se a ela com respeito.

Tema a morte! Desenvolvam-se mais vacinas! Consiga-se a imortalidade! E depois de satisfazer todo o seu ego olhe então para o que o rodeia. Aviso-o aqui, hoje, que poderá não restar muito.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Outro post...

Bem… Chega hoje outro “post” e, como venho a defender, apenas outro dia igual a tantos outros semelhantes a este, onde as pessoas querem e forçam a oferecer-se algo especial. Porquê? Não é essa a questão, penso eu, aliás eu defenderia “porque não?” como a questão possível.

Este “post”… Este “post”… Não pensei sobre ele durante todo este mês (*1), talvez a minha vida esteja a entrar na perfeição onde os sonhos envolvem a realidade dramática, onde eu não quero ver nada de errado nesta mesma realidade. Ou talvez eu estivesse muito ocupado, muito cansado, muito desapontado ao longo de todo o mês sem tempo para perder com este blog. Quem sabe? Eu não, isso é certo.

Tudo isto para tentar dizer que hoje eu não tenho uma razão. Um objectivo. Algo por detrás do “acto” que me faz “actuar”. Toda a gente o tem quando “actua”. “Actuar” é vida e a vida é um “acto”. Entre nós que com a melhor das sortes ou, quem sabe, o pior dos azares, podemos produzir inteligência “superior”, penso que a maioria iria dizer que é um dom, mas nesta vida de acto eu diria que é o pior dos azares onde temos de fingir algo se queremos chegar a algum lado ou a alguém, onde nós iremos confiar com a inocência de um cego e como agradecimento seremos atacados pelas costas como idiotas. Isto faz-nos, a mim pelo menos, pensar sobre o INTERESSE que toda a vez alguém se ri para mim, por isso diz-me – será isto ter sorte? Eu preferia perder algum auto-questionamento, alguma inteligência, alguma experiência de vida talvez e ser um estúpido por algum tempo ou para sempre… Apenas para ter o dom de acreditar sem questionar ou ter provas, apenas para ter alguma felicidade por entre este “dom da inteligência”.

Por isso, olha bem para mim e diz-me quais são os teus objectivos e razões, porquê estás tu a observar-me a rir para mim, porquê esse olhar, P-O-R-Q-U-Ê?

Esta é uma das razões que por vezes eu penso sobre actuar antes de pensar sobre o acto, mas eu sei que não posso, algo de errado iria acontecer, neste “espectáculo” muito público irá aplaudir ou condenar – a todo o segundo, a todo o minuto, a toda a hora, em todo o lado.

Bem, parece que afinal o tema acabou por surgir e parece que eu não precisei de uma razão para este acto, parece que esta é uma forma de alcançar alguma felicidade.


“Impossível! Este texto foi premeditado e ele pensou sobre cada palavra!” – Não te culpes… tu pertences a “nós”.



(*1): o blog era escrito mensalmente.

Vincent (Tim Burton, 1980)