domingo, outubro 10, 2010

O amor

Hoje, estou cansado. Pesam em mim todas as memórias do mundo. E todos os sonhos surgem à minha frente como uma alucinação nauseante e repentina.
Sou guiado para fins que desconheço e por caminhos desconhecidos. Talvez sentar e ficar a sentir o tempo correr tenha o mesmo resultado que perseguir objectivos (objectivos que nunca serão meus, nem de ninguém).
Tinha uma ilusão. Ela escondia-se dentro de mim, em espaços muitos escuros onde muito dificilmente a via. Eu acreditava que o homem pode ser bom, ou melhor, que o homem é bom por natureza. Ontem, encontrei essa ilusão e sufoquei-a até sentir que as suas raízes, enterradas em mim, perdiam a força e que, ao mesmo tempo, uma tristeza alegre me confortava o espírito, anunciando que um novo mundo tomava forma à minha frente (novas definições e outras maneiras de agir se impuseram).
Descobri que sou só e que não há pai, nem mãe, nem irmão, nem tio, nem namorada, nem amigo, que possa pagar a fiança e comprar essa liberdade, o que podem fazer (e até devem) é trazer-me tabaco e dinheiro, nos dias de visita, para que os meus dias se tornem mais suportáveis, permitindo que alguns prazeres passem por este corpo.

Falo da ilha isolada que sou para a ilha isolada que és, mesmo que essa tua condição não te seja clara neste momento.

O amor é vontade de poder.
Não te iludas com o homem, são todos iguais a ti mesmo.
Imagina o que te espera.

5 comentários:

  1. Como por vezes pode tanto parecer que estamos tão sós... Condição que por vezes nos é dissimulada.
    Mas quando sentimos através do pensar isso, apercebemos que estamos tão sós como podemos não estar, construindo "pontes" entre as ilhas isoladas. Vias pelas quais nos interligamos e nos "desligamos" sempre que precisarmos, sempre que nos sentirmos sós, sempre que nos sentirmos pesados e tristes, sempre que quisermos procurar a nossa paz, o caminho, aquilo que na verdade poderemos ser!
    O "eu", sítio de expectativas e potencialidades a vir a ser... E por vezes a des-ser!

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  2. o eu precisa do outro para se realizar.
    :)
    para alguns, pelo menos.
    se calhar é uma sorte, essa de conseguir ser sozinho. ou uma ilusão...

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  3. Bem observado.
    Mas a existência do Outro é por si só o fim do sentimento de solidão?

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  4. boa...!

    pois, essa existência não é de todo o fim do sentimento de solidão, antes a sua causa.
    agora fiquei a pensar nisso...

    mas bem, há respostas que nem a filosfia dá...
    por mais que se escreva, que se teorize e divague sobre o amor, resta-nos o seu corpo em felizes coincidências, em combinações quase mágicas de pessoas...
    por mais que nos queiramos orgulhar de sermos inteiros na solidão, há sempre um pedaço de nós que queria ser inteiro no outro...
    mas isso não se vende na farmácia :)

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