Lembras-te daquele nosso banco de jardim? As tardes de outono depois da escola. Era como que se um pedaço de tempo caísse solto do seu calendário. Para nós. Só nosso e daquele sol que descia reflectindo nas pedras da calçada a sua harmoniosa luz. Suave. Brilhava por de entre as folhas caídas de outono e eu, bem, eu estava, mas não estava. Porque estava contigo, não precisava de estar eu. Eras tu, eu. Sorria cerrando levemente os olhos que em ti me faziam chegar, afundava nos teus. Perdia-me. Perdiamo-nos.
Levantava-se a noite com tanto ainda para falar. Discutíamos. Sem o auxílio do relógio que não era para ali chamado! Eu tinha a razão, mas tu não querias ver! Repara nos meus argumentos! Mas não, tu não cedias! Afinal de contas eras tu quem tinha a razão e eu quem não queria ver. Mas sabes bem que afinal havia uma vírgula que não tinhas tu considerado! Eu sabia! Nós sabíamos. Porque éramos um. Fazia-mos sentido, no meio do turbilhão caótico de ideias e argumentos pouco arrojados, nós fazíamos sentido.
Quero que saibas que se sentou hoje aqui comigo, no nosso banco de jardim, ele que se acha digno de atenção. Eu, por simpatia ou cansaço depois de um dia longo de escola, deixei que ele falasse e eu ouvia. Sempre muito presente sentindo o ferro frio do banco na minha nádega esquerda. Dificilmente cruzávamos um olhar tal não era a falta de irmandade. Sentia a brisa fria, cortante que o sol já não tinha forças para aquecer. Esperava que ele terminasse o seu discurso sem sal. E terminou.
Vejo-o partir saciado da sua necessidade de se centralizar no mundo. Quanto a mim, quero que saibas que aqui te espero, no nosso banco de jardim. Espero por te conhecer. Um dia.
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