sexta-feira, setembro 24, 2010

Melodia

Aquele som. Que me mexe e remexe, sinto a barreira essa pairando lá no alto, que colapsa estrondosamente no embate que quebra o seu silêncio. Sou levado e vou, vou nessa onda que vibra como galhos verdes de outono que teimam em desabrochar. Estala estonteante, mas que som! Sim, apodera-se de mim aquela sensação arrebatante que ao principio ousei desprezar. "Não, será apenas só mais outro som. Como imensas livrarias que se fariam estender pelas maiores cidades do mundo. Encobrindo até esse que é omnipotente, esse que é sol." Tudo! Tudo se envolve como que se uma sanguessuga posicionada no ponto central exacto do quadro que é a fantástica vida, a chupasse aqui mesmo! Agora! É agora, apercebo-me! Está a acontecer. O bombardeamento selvagem atacante sem dó nem piedade. Não poupa ninguém? Não vejo ninguém! Não o sei precisar ou imaginar! Agora não! Agora sou eu e este som, que vibra, que me possui corpo e alma! Não creio! Não posso crer, digo até, que algo tão devastador e insaciável se apodere apenas de um só órgão que compõe este que é o meu corpo humano. Impossível exclamo! Não me dirão que os causadores deste trance a que já me habituei e me descontrolo são os ouvidos por si só! Caio então nele, rebolo desamparado à medida que o som volta a subir de intensidade! E com o som trás cores, trás imagem! Trás sentimento, trás emoção! Trás tacto, trás cheiro! Mas que som esse! Vejo o mundo a 100 à hora! Tudo passa sem que nada se aperceba de mim! Mas eu, ò eu! Que de percepção aguçada por esse som tudo vejo! Tudo vejo a passar e não o quero parar. Não posso assumir qualquer tipo de compreensão à medida que caio! Mas desbasta-me então à medida que o corpo acusa excesso. A que me pego eu? A que me seguro? Haha! "A nada!" me exclamo por entre a euforia! E então agora rendido me balanço. Mexo-me como nunca me mexi antes. Expressando um desenho abstracto numa tela invisível. Desenho eu todo! Eu que agora rendido me balanço. Solto o braço no ar respondendo à bombada mais forte, mais guerreira do bass! Atiço esse dialogo flamejante mostrando o fraco e impotente que sou perante tão grandioso som. Salto. Deslizo. Estalo os dedos para acertar a batida incerta que insiste em desbravar. Abano a cabeça ainda que a cabeleira não esvoace.
Quão flamejante e intenso! Quão não tarda a soltar-se a última batida. A majestosa última batida que acerta pela última vez o passo ao coração.
É neste desfechar de luzes que agora o maestro pede a sua ovação.
Mas eu não, não me levantarei rendido que estou neste chão. Solto um riso fechado à medida que fecho os olhos. Agarro os joelhos como quem ousa vir à vida e abandono o meu corpo, ciente do grandioso momento que acabara de violar o meu corpo.

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