Amor. Esse amor que se começa a amar pelo globo ocular. Que de súbito desce aos calabouços do ser, cai no precipício de alma para que com toda a sua iminência venha ao de cima para trazer um fulgoroso estrondo para que caia-mos em nós próprios, para que deixemos de ser nós próprios para dar algo à fuga do ser, que foge por amor. Que já não é nosso, não é de ninguém, pois de ninguém deverá ser o sentimento. E se fosse?
Se houvesse esse que ninguém fala, que todos o deixam no sótão do esquecimento que poderia ser eterno. Mas eterno não, que eu não o deixo. E se houvesse ele? O que seria do nosso ser se ele dissesse que guardava todos os sentimentos num livro escrito à mão que fora pela sua, não doutrém. Lho digo eu que iria desfolhar o livro fervorosamente, galopando forte por entre as páginas como que se o amanhã demorasse a chegar. Sim, estou certo de que o faria assim que eu ousasse dizer-lho sussurrando ao ouvido: "A verdade, mesmo que escassa e supérfula, ínfima essa atrevo-me, é que tu, tu nada sabes sobre o que sabes quando de sentimento te evoco. Sentes para que sintas, para que fujas ao que não sabes e não queres verdadeiramente conhecer, porque te agrada, te enche de prazer. Dele precisas, dele não queres abdicar. Por isso mesmo, o evitas conhecer."
Já to disseram e nunca o levaste a sério. O que vês hoje foi uma sucessão de acontecimentos que de ti nem um pestanejar precisou. De nada tu fizeste parte para que estejas aqui hoje. E to digo eu, que de nada de ti precisas para amar. To digo que o que começa no globo ocular e passa para as entranhas do teu ser de nada de ti precisa.
Da mesma forma que escolhes a maça mais bela de toda a macieira para que a comas, mesmo com a tua ausência do questionar que, no fundo, te domina, também o mesmo acontece com aquele que amas. Pois é o mais belo do pomar que alcanças e assim o que te trouxe aqui hoje, de que nem um pestanejar teu precisou, mais uma vez te nega e despreza para que outros venham depois de ti. Fazendo de ti uma marioneta que não consegue ver os próprios cordéis.
Gostei da transparência do texto :D
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