Uma alma irrequieta é sempre difícil de se lidar.
Uma alma irrequieta grita, salta, contesta, rejeita, contraria, acusa, aplaude, assobia, incentiva, destrói, sente, descontrola-se, irrita, transforma. Mexe-se a ela e contagia o próximo para que se junta a ela num fervilhar de energia que é espírito, que é liberdade, que é força, que é natureza. Explode, não se limitando ao simples viver.
São tantas e tão poucas! Às milhares, às dezenas. Pequenas, grandes, pequeníssimas talvez, mas que de sua grandeza vingam na simples existência. Se ouro e diamante de seus incríveis valores são dotados, não tão pouco valeram estas escassas almas com certeza, que quebram a linha direita que por Deus é escrita.
Fugazes, excêntricas é raro o dia que o sol não ilumine a sua presença, que o silêncio insiste a esconder. É rara a que se deixe conhecer, mais ainda a que se deixe desabrochar e florescer. Que de tanta força se enchem de certezas e alavancas que projectariam feitos incríveis, que de com a mesma força se fecham à chave da lei. Da lei e da ordem, pois com certeza. Acreditamos nós então, pois é um facto que de sua natureza se prova, uma alma irrequieta pode fazer girar um pequeno carrossel, pode fazer girar o mundo. Pode ser força que envolve, converte os mais cépticos, os mais silenciosos. Mas que não nos faz falta. Nenhuma, vos digo eu. Que seja mito, história de encantar até se possível. Que seja uma bela cantiga de amor impossível. Que seja escrito heróico de páginas de blog, porque não?
Mas que não seja liberdade tal coisa essa que é fervilhão de energia, que é espírito, que é liberdade, que é força, que é natureza. Que não nos incomode, a bem dizer. Que não abane o nosso mundo perfeito que das mais impiedosas imperfeições se gaba e se alegra de ser. Que não me incomode A MIM, que já mais eu incomodaria alguém que fosse ou não fosse. O que eu quero é sossego. Pão na mesa e espectáculo na caixa que seus miraculosos talentos e sábia léria hipnotiza todo o bom e correcto Homem que de seu sossego se enche e lhe chega.
E tu que este texto lês e até mesmo tu que de o ler não precisa, poupa-me nesse teu dia chato e que a mim só poderá aborrecer. Não venhas tu ter comigo quando impiedosas imperfeições de que é feito o nosso mundo perfeito te tirarem o que para ti é mais sagrado, o nosso tão estimado sossego. Sim, para ti e para mim. Por isso mesmo, deixa-me! Que pelo menos eu ainda terei pão e uma caixa que contemplo, que é religião, que é alegria, que é a minha vida, que é sexo, que é terror, que é tudo. Tudo o que me chega para encher a barriga que o pão por si não enche. E não te incomodes que mais barrigas eu não tenho, e estas chegam-me bem.
Se a mim te quiseres juntar só terás sempre uma única condição: junta-te a mim, no silêncio.
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