segunda-feira, dezembro 28, 2009

Tudo mudo

A vida muda, muda o ano,
o som, as cores... mudam
e eu aqui, inteiramente mudo,
a contemplar essa mudança,
e mudo eu, nessa mudança,
e muda o mundo, e muda a vida.
Tudo muda, tudo mudo.

Paulo Camelo

Retirado do Blog:
http://tsofsilence.blogspot.com/

Junta-te a mim no silêncio

Uma alma irrequieta é sempre difícil de se lidar.

Uma alma irrequieta grita, salta, contesta, rejeita, contraria, acusa, aplaude, assobia, incentiva, destrói, sente, descontrola-se, irrita, transforma. Mexe-se a ela e contagia o próximo para que se junta a ela num fervilhar de energia que é espírito, que é liberdade, que é força, que é natureza. Explode, não se limitando ao simples viver.

São tantas e tão poucas! Às milhares, às dezenas. Pequenas, grandes, pequeníssimas talvez, mas que de sua grandeza vingam na simples existência. Se ouro e diamante de seus incríveis valores são dotados, não tão pouco valeram estas escassas almas com certeza, que quebram a linha direita que por Deus é escrita.

Fugazes, excêntricas é raro o dia que o sol não ilumine a sua presença, que o silêncio insiste a esconder. É rara a que se deixe conhecer, mais ainda a que se deixe desabrochar e florescer. Que de tanta força se enchem de certezas e alavancas que projectariam feitos incríveis, que de com a mesma força se fecham à chave da lei. Da lei e da ordem, pois com certeza. Acreditamos nós então, pois é um facto que de sua natureza se prova, uma alma irrequieta pode fazer girar um pequeno carrossel, pode fazer girar o mundo. Pode ser força que envolve, converte os mais cépticos, os mais silenciosos. Mas que não nos faz falta. Nenhuma, vos digo eu. Que seja mito, história de encantar até se possível. Que seja uma bela cantiga de amor impossível. Que seja escrito heróico de páginas de blog, porque não?

Mas que não seja liberdade tal coisa essa que é fervilhão de energia, que é espírito, que é liberdade, que é força, que é natureza. Que não nos incomode, a bem dizer. Que não abane o nosso mundo perfeito que das mais impiedosas imperfeições se gaba e se alegra de ser. Que não me incomode A MIM, que já mais eu incomodaria alguém que fosse ou não fosse. O que eu quero é sossego. Pão na mesa e espectáculo na caixa que seus miraculosos talentos e sábia léria hipnotiza todo o bom e correcto Homem que de seu sossego se enche e lhe chega.

E tu que este texto lês e até mesmo tu que de o ler não precisa, poupa-me nesse teu dia chato e que a mim só poderá aborrecer. Não venhas tu ter comigo quando impiedosas imperfeições de que é feito o nosso mundo perfeito te tirarem o que para ti é mais sagrado, o nosso tão estimado sossego. Sim, para ti e para mim. Por isso mesmo, deixa-me! Que pelo menos eu ainda terei pão e uma caixa que contemplo, que é religião, que é alegria, que é a minha vida, que é sexo, que é terror, que é tudo. Tudo o que me chega para encher a barriga que o pão por si não enche. E não te incomodes que mais barrigas eu não tenho, e estas chegam-me bem.

Se a mim te quiseres juntar só terás sempre uma única condição: junta-te a mim, no silêncio.

terça-feira, dezembro 22, 2009

sexta-feira, dezembro 18, 2009

A Prisão

Para que possamos falar de algo com objectividade e algum sentido de verdade precisamos pois de um conhecimento condutor de todo o raciocínio vigorante à comunicação.
Conhecimento esse que parte da experiência humana, experiência essa conseguida através de objectos e sentimentos. O tema que nos trago hoje é “A Prisão”, pois bem teremos então de recorrer ao nosso conhecimento para que primeiro a possamos definir. Delinear o nosso campo do que vamos conversar para que, faça-se saber, nos entendamos. Pois o que não falta neste mundo são desentendimentos, não concordará comigo? Claro que sim, mal entendidos, coisas de sua grande pequenez, “menisquices”, pequenos detalhes que por uma razão ou por outra não controlámos, ou, por ventura, grandes erros que dão voltas de 360º para que possamos apreciar bem o fiasco da ocorrência, o descontrolo que surgiu por aquela falta de controlo de que vos falo. Há que saber controlar, há que saber ser objectivo e directo. Mais que tudo, saber ser oportuno! Para quê falar quando não controlamos o campo do que se fala se sabemos que o mais provável é que nos enterremos, e nos enterrem mais fundo ainda?
E tu, meu amigo, se nada controlas ou nem sabes de controlo que falo, por favor afasta-te pois nesta conversa não poderás entrar. Ou queres que te enterre eu mesmo?
Há que ter medo e há que saber impor grande medo. Para que saibamos delinear com máximo rigor afinal o que estamos aqui a tratar.
Acrescente-se ainda, também, o respeito! Há que saber respeitar! Pois se não respeitarmos que controlo existirá? Que conversas seremos nós capazes de ter em tal anarquia? No que se tornaria este blog?!
Já pensou bem? Não pense mais, eu próprio lho digo: tornar-se-ia num cuspir no prato em que comemos.
Porque aqui não se criam prisões, cria-se liberdade. Porque aqui a regra é de todos e não é de ninguém.
Quebrem-se os taboos, fale-se do que não é falado, fale-se ainda sobre o que de nada temos certeza.
Porque o pensamento, esse, não tem prisões possíveis.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Procura-se um amigo

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Vinicius de Moraes

retirado de: http://www.astormentas.com/poema.aspx?id=1687&tp=&titulo=Procura-se%20um%20amigo

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Rasgou o Ventre do Nada

Tenho sempre muito prazer em fazer nascer algo. Quer dizer, quando esse algo trás consigo consequências negativas acho que a dor substitui o prazer, mas não é este o caso.
O primeiro post de um blog é um nascimento, pelo menos sempre o vejo assim e sempre me dá prazer publicá-lo.
Não vou dizer porque criei este blog, talvez vá mesmo alterar o motivo da criação com o passar do tempo.
Quero apenas que este espaço seja um lugar de liberdade para que seja uma extensão da vida.