segunda-feira, abril 25, 2011

maspoxavida

Descobri e senti pena de ninguém me ter apresentado. Então decidi apresentar eu mesmo para que tu não sintas o mesmo :)




O que me causa confronto de ideias é o olho do homem. "?!"

domingo, janeiro 09, 2011

Contra a Grande Guerra




"I watched this live on TV in early 1968. (I was a high school senior at the time.) Every viewer understood that "the Big Fool" meant our tall Texan president, Lyndon Johnson. A few weeks after this show was broadcast, Sen. Eugene McCarthy, running as an antiwar candidate, gave Johnson a drubbing in the New Hampshire primary and forced LBJ to withdraw from seeking reelection.
This was a very courageous performance, but Pete was also expressing what millions of Americans felt at that moment."

Tradução:

Eu vi isto ao vivo na TV no início de 1968. (Eu era um finalista de liceu na época.) Todo o espectador entendeu que "o Grande Estúpido" significou o nosso presidente alto texanoLyndon Johnson. Poucas semanas depois deste show ter sido transmitido, o senador Eugene McCarthy, concorrendo como um candidato anti-guerra, deu a Johnson uma surra no New Hampshire primária e forçou LBJ a retirar-se à reeleição.

Esta foi uma performance muito corajosa, mas Pete estava também expressando o que milhões de americanos sentiram naquele momento.

domingo, janeiro 02, 2011

Sr. Primeiro Ministro

Falta saber onde está a opção melhor, de todos os fantoches venha o Gepeto e escolha.



"Vá lá... Ele teve azar de ter apanhado com a crise... Crise de manipulador compulsivo."

domingo, dezembro 12, 2010

Futuro optimista



Sinopse: uma nova pessoa vem a esta realidade e é-lhe ensinado a montar uma estrutura para entender essa mesma realidade. Confrontado com outras estruturas ligeiramente ou extremamente diferentes da dele, questionasse e instrui-se com informação que lhe alargam as perspectivas da realidade, ao mesmo tempo que o choque de estruturas destroem ligações afectivas.



Sinopse: um pequeno exercício guiado através de exemplos e confrontações (situações do dia-a-dia) para que se questione a forma de como raciocinamos e a forma a como respondemos a desafios que nos são impostos. É lançada ainda uma proposta para que se oriente da forma mais eficiente, coerente, imune de influências externas a nossa lógica.



Sinopse: estudos, estatísticas, curiosidades sobre o porquê de termos um povo tão tentado ao conformismo. No fim deste exercício pode também encontrar formas de o combater.

Viver sem conflito

Aceitamos viver nesta condição de miséria pois separamos a morte da vida. A morte como algo horrível que só o é por aceitarmos essa condição. Sem conflito a morte teria um significado diferente. E a busca pelo significado do que é o amor teria outro rumo.


sexta-feira, dezembro 10, 2010

Cântico Negro

«Vem por aqui» - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos lassos,
Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Porque me repetis: «vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais niguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: «vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!


José Régio

segunda-feira, novembro 15, 2010

Fui às compras

Chego apressado e com uma película de suor que me cobre todo o corpo; é fina e fria como o gelo das madrugadas. Entro rapidamente no quarto, com três largos passos fico sentado no cadeirão junto à mesa dos papéis. Num movimento de mole desespero e de incerteza crónica, procuro o pacote minúsculo que trago no bolso mais pequeno das minhas calças. Aquele bolso feito para colocar os pacotes minúsculos que carregam o único e possível descanso terreno de quem usa aquelas calças.
Agarro-o com dois dedos e tiro-o do bolso. Coloco-o em cima da mesa e através do fino plástico azul consigo deslumbrar a cor castanha daquele pó essencial. Quase que sinto o seu fumo a passar pela minha boca e a prender-se nos meus pulmões.
Isso faz-me ficar ainda com mais pressa.

Estou preparado, tenho tudo o que preciso, nervosismo, folha de alumínio, vontade de fugir da minha vida, navalha, mãos suadas, isqueiro e cigarros. Começo pela folha de alumínio, é preciso cortar dois quadrados do tamanho de uma mão, faço isso como quem beija e acaricia uma mulher só para ter sexo, preliminares desnecessários. Depois de ter esses dois quadrados, dobro um em quatro partes para que fique mais pequeno e mais forte. Puxo de um cigarro e enrolo essa parte ao cigarro. O objectivo é dar-lhe uma forma redonda para que, quando tirar o cigarro, consiga fazer desse quadrado um tubo perfeito. Este não é. Ficou imperfeito como tudo o que faço e tudo o que sou, mas isso não importa. O que importa é que este ansioso preliminar terminou. Pego na navalha e com um corte prensado abro o pacote (que, neste momento, é o centro da minha vida).
Tenho o cuidado de não deixar cair nenhum pó.
Tudo é necessário.
Com cuidado e mãos trémulas coloco o pó no centro do quadrado da folha de alumínio e o tubo imperfeito na minha boca. Faço com que a folha não deixe cair nenhum pó. A mão direita procura o isqueiro e encontra-o. Acende-o e coloca-o debaixo da folha de alumínio. O pó, ao ser tocado pelo calor da chama, transforma-se em líquido. Transforma-se numa bolha fumegante de um negro liso e castanho cor de sangue. O primeiro fumo que me chega ao nariz dá-me vómitos (que eu controlo perfeitamente) e faz com aquele cheiro se cole a tudo. Inclino a folha de alumínio, normalmente chamada de prata, para que esta preciosa bolha possa escorregar e durar-me o maior tempo possível. Cheguei ao ponto onde queria chegar e de onde nunca queria partir. Dou lume e a bolha começa a correr, nesse momento começo a aspirar aquele fumo que tem um horrível sabor a sacrifício. Inspiro o suficiente para não ser demais ao ponto de me levar a vomitar e não ser de menos ao ponto de não sentir os primeiros efeitos. Foi pouco fumo, mas algo na parte de dentro da minha nuca tornou-se diferente. Uma paz egoísta começou a alojar-se aí, um estado diferente, uma estranheza mole e esponjosa. Num lento expirar deito fora tudo o que restava de fumo nos meus pulmões. A boca ficou com um gosto horrível que é preciso aguentar. Tornou-se seca e vazia, onde a língua bate rija contra os dentes fixos e implacáveis e contra o céu-da-boca negro e cinzento como eu o imagino. Continuo a fumar. Há quarta inclinação da prata eu sou outro. Surge em mim a calma que existe no fundo do oceano, torno-me uma pedra com olhos e boca. Sou uma árvore com pernas e pensamento. Sou uma montanha sentada num cadeirão.
A prata começa a ficar riscada com o correr da bolha, tal como as paredes brancas dos montes do Alentejo ficam riscadas pelo passear dos caracóis durante o Verão. Estou completo. Sinto o crânio cheio de uma pressão mansa, uma energia calma e poderosa. Começo a funcionar como Deus. Não existem problemas ou os que existem não passam de pormenores que precisam de ser enxotados com a mão. Continuo a fumar. Sinto-me muito bem, sinto-me doente. A bolha começa a diminuir, cada vez se torna mais pequena e cada vez aquela prata se parece mais com uma teia de aranha. Os rastos da bolha começam a fazer formas geométricas imperfeitas. Estou cinco vezes mais pesado que habitual. Os movimentos tornaram-se lentos e cansados. Apetece-me parar tudo e ficar de olhos fechados a sentir o meu respirar. A sentir este mole prazer que aparece em explosões, surdas e mudas, por todo o meu corpo, por todo o espaço de corpo que tenho. Faço uma pausa antes de acabar com a bolha. Sou feliz mesmo sabendo que só o sou por algumas horas. Recosto-me no cadeirão e relaxo todos os músculos, ossos e pensamentos do meu corpo. O tempo é contado em respirações. Uma vontade de vomitar nasce na ponta inferior do meu estômago, entretenho-me a vê-la crescer, a vê-la subir. É maravilhoso estar vivo. Acho que não vou conseguir acabar com a bolha, acho que me vai fazer vomitar. (Mesmo assim.) Vou arriscar. Num bafo cuidadoso, com o cuidado de quem enfia comida na boca de um acamado crónico. Respiro esse último fumo enquanto assisto ao ferver final da bolha e à sua transformação numa crosta seca e cinzenta anunciadora do fim dos sonhos. Largo tudo. Já não preciso de nada. Encontro uma posição confortável e quase que adormeço a observar as náuseas que, em vagas, me sobem meigamente à boca pelo estômago, como crianças que correm rua acima rua abaixo só para sentir o vento na cara. Sei que é uma questão de tempo até que uma me faça vomitar. Sei, também, que esse vomitar pode ser fatal. Mas isso não me interessa por agora. Estou de olhos fechados, quase que adormeço de prazer no cadeirão. Apenas me mexo para acalmar as comichões que me surgem na cabeça, no rosto, no nariz… Talvez o nariz seja o pior. É um gesto repetido, o de coçar o nariz.
As náuseas continuam.
Até que uma me obriga a mexer.
Faz-me endireitar o tronco, que repousava enrolado.
Tive que abrir os olhos.
Com essa náusea chegou também o medo.
Respiro devagar para a controlar. Tento ser o menos agressivo possível em tudo o que faço. Qualquer gesto pode trazer consequências inesperadas, pressinto-o. Sento-me meio curvado, meio como quem abraça alguém para fazer sentir bem e controlar-lhe a revolta. Fico assim durante alguns momentos. Agora, começo a sentir um mal-estar na forma duma pedra grande e redonda que me apareceu na base do estômago e que lentamente vai subindo. Sinto que não há nada a fazer. Não há maneira de a parar. Ela arrasta tudo consigo. Ela sobe. Até que chega à minha garganta. Num reflexo, o meu corpo entrega-se a um espasmo e sou projectado para a frente por um vómito doloroso, vazio e quente. Pouco há para vomitar a não ser esta vontade de vomitar (deixei de comer há dias porque me cansa muito mastigar e porque toda a comida se torna cinza na minha boca). Estou de joelhos, mãos no chão, boca aberta e garganta trancada por convulsões amargas e quentes. Quero vomitar, mas não o consigo fazer. Não há nada para vomitar, mas um impulso cego obriga-me a fazê-lo. A garganta trancou do esforço, o meu medo tornou-se pânico. Era isto que eu não queria, é isto que está a acontecer. Não consigo vomitar e agora também não consigo respirar. A garganta trancou. Consigo respirar em pequenos goles de ar. Quantidades quase imperceptíveis e quase insuficientes. Este esforço para respirar faz o som horrível de quem está a sufocar. Olho a morte nos olhos. Não sei se consigo mais um gole de ar, cada vez se torna mais difícil, cada vez a garganta está mais cerrada. Tenho os dedos cravados na alcatifa. Todo o meu corpo é tensão e garganta é um músculo preso num apertar absurdo. Está-me a fazer morrer. Estou a perder a força. Em vez de ar respiro um chiar forçado. Respiro um desespero final. Perco as forças. Caio para o lado. Com toda a força que me resta tento respirar. Mas não consigo. Um branco sem cor começa a tomar conta de mim, dos meus olhos, dos meus pensamentos… O desespero cede ao largar. As contracções internas do meu tronco marcam o tempo.
Foi aqui que nasci.